Genética de Conservação
Apesar de ser muito popular hoje em dia, a expressão diversidade biológica somente começou a ser usada na literatura há pouco tempo (Norse e McManus, 1980). Desde sua origem, a expressão diversidade biológica já trazia a idéia do conjunto de variabilidade ecológica (números de espécies de uma comunidade e suas interações) e genética (diversidade de alelos nos vários locos de uma espécie). O componente genético da biodiversidade é fundamental, pois é a variação genética que fornece o material básico para a seleção natural e, portanto, para a evolução de todas as espécies (Allcock et al., 1986)
Durante as últimas décadas a diversidade biológica do planeta tem sido reduzida de forma drástica como consequência direta ou indireta da ação humana (destruição do habitat e fragmentação, sobre-exploração, poluição, e movimentação de espécies para novas localidades) (Frankham et al., 2004). A sociedade humana consome atualmente 40% de toda a produção primária terrestre do planeta (Vitousek et al., 1986) ̶ nunca uma única espécie consumiu tantos recursos naturais quanto a nossa. Dessa forma, uma grande parte da variabilidade genética, de importância econômica e ecológica para a humanidade, foi perdida. Isso resulta em uma limitação no potencial de adaptação às mudanças do ambiente. Além disso, a depressão por endocruzamento se torna uma consequência inevitável para muitas espécies. Atualmente muitas delas necessitam de intervenção humana para assegurar sua sobrevivência (Frankham et al., 2004).
A escala do problema é enorme e tem sido chamada de “sexta extinção”, uma vez que sua magnitude se compara às outras cinco extinções em massa reveladas por registros geológicos. A extinção é um fenômeno natural do processo evolutivo, no qual as espécies tipicamente persistem por aproximadamente 5-10 milhões de anos. Quando há um equilíbrio entre extinção e origem de novas espécies (especiação), a biodiversidade é mantida. No entanto isso não ocorre nas extinções em massa, tais como os cataclismas cósmicos que eliminaram muito da fauna e flora no final do Cretáceo, a 65 milhões anos atrás. Foram necessários muitos milhões de anos para a ploriferação dos mamíferos e plantas angiospermas que substituíram os dinossauros e as plantas gimnospermas existentes anteriormente. A sexta extinção é igualmente dramática. As espécies estão sendo perdidas em taxas que ultrapassam a origem de novas espécies e, diferente das outras extinções em massa anteriores, esta é principalmente devido às atividades humana (Frankham et al., 2004).
A genética da conservação, assim como todas as disciplinas que compõem a biologia da conservação, é motivada pela necessidade de reduzir as taxas atuais de extinção e preservar a biodiversidade. (Frankham et al., 2004)